O anúncio recente do recasamento apressado de Todd Bentley e sua restauração está transmitindo uma mensagem confusa à igreja. Gemi quando fiquei sabendo no começo desta semana que o pregador canadense Todd Bentley, líder do polêmico Reavivamento de Lakeland, decidiu se divorciar de sua esposa, Shonnah, e se casar com uma ex-estudante estagiária de seu ministério, Jessa Hasbrook. A notícia veio à tona depois de quase nove meses de silêncio e especulação. Durante esse tempo, a diretoria dos Ministérios Fogo Fresco (Fresh Fire Ministries), de Bentley, na Colúmbia Britânica, Canadá, o repreendeu publicamente por cometer adultério.
Numa declaração distribuída em 10 de março por Rick Joyner, o escritor e pastor popular que está supervisionando o processo de restauração de Bentley, ficamos sabendo que (1) Bentley se casou com sua nova esposa várias semanas atrás e se mudou para a base de Joyner em Fort Mill, S.C.; (2) Todd e Jessa concordam que seu relacionamento foi “errado e prematuro” e que “não deveria ter acontecido do jeito que aconteceu”; (3) Bentley permanecerá fora do ministério público enquanto estiver buscando cura; e (4) Joyner supervisionará o processo de cura com a assessoria do Pr. Jack Deere de Dallas e do Pr. Bill Johnson da Califórnia.
Anunciou-se também que Bentley planeja relançar seu ministério, chamado Fresh Fire USA, em Fort Mill, e que Joyner está agora coletando doações de apoiadores para ajudarem a reconstruí-lo. (O ministério canadense que Bentley fundou mudou agora de nome para Transform International, e cortou todos os laços com o evangelista.)
Em pouquíssimos trechos de sua declaração Joyner expressou amor firme, principalmente ao dizer: “Sabemos que a confiança tem de ser conquistada e que Todd terá de conquistar a confiança do corpo de Cristo para ter seu ministério futuro, que não será fácil, nem deveria ser diferente”. Ele também deixou claro que o verdadeiro arrependimento e restauração “só podem ocorrer se recusarmos negociar os claros padrões bíblicos de moralidade e integridade”.
Mas havia algumas omissões brilhantes nas declarações distribuídas nesta semana que indicam uma fraqueza fundamental em nosso modo livre de “restaurar” líderes caídos.
Em primeiro lugar, é vergonhoso e cruel que Shonnah Bentley, a primeira esposa de Todd, não pareça ser uma questão importante no debate que está em andamento. O nome dela nunca é mencionado na declaração de Joyner — embora Todd seja mencionado 18 vezes. Nada se fala de como Shonnah está lidando com o divórcio. Como ela conseguirá cuidar de três crianças que ela e Todd tiveram juntos? Ela e as crianças parecem invisíveis nesse processo. Contudo, se alguém precisa de cura e restauração, não é a outra metade dessa família quebrada?
Em segundo lugar, nós que cremos nos dons sobrenaturais do Espírito Santo ainda parecemos ter o hábito de elevar os dons acima do caráter. É quase como se os fins justificassem os meios. (E daí se um pregador arruína um casamento e faz uma decisão apressada de casar com uma mulher mais jovem? O importante é que o coloquemos de volta no púlpito para curar os doentes!) Isso é pura perversão da integridade bíblica. Deus pode ungir qualquer homem ou mulher com o poder do Espírito Santo; o que Ele está procurando são vasos de honra que possam levar essa unção com dignidade, humildade e pureza.
O que é mais deplorável neste mais recente capítulo no escândalo de Bentley é a falta de verdadeiro arrependimento. Em sua própria declaração, Bentley pede desculpas por suas ações e diz que “assume plena responsabilidade por minha parte do fim do casamento”. Mas como é que ele pode estar assumindo “plena responsabilidade” se ele voluntariamente escolheu ter uma namorada do lado dele — e então se casou com ela imediatamente depois que o divórcio saiu? Por que é que ele se escondeu por vários meses quando ele deveria estar escutando conselhos e buscando reconciliação com sua primeira esposa?
Muitos cristãos hoje rejeitam a disciplina bíblica e adotam um amor doce e mole que não consegue corrigir. Nossa graça está melada de graxa. Não importa o que um irmão em pecado faça, nós o tratamos com carinho e cuidamos de suas feridas e ao mesmo tempo ignoramos as pessoas que ele machucou. Não importa que o pecado tenha sido horrível, nós oferecemos palavras consoladoras porque, afinal, quem somos nós para julgar?
Quando o apóstolo Paulo ficou sabendo de um membro da igreja de Corinto que estava num relacionamento imoral com a esposa do seu pai, ele não se apressou para consolar o homem. Ele disse para os coríntios: “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação” (1 Co 5:2). Às vezes precisamos usar uma espada cruel a fim de trazer cura genuína. As “feridas feitas pelo amigo” fielmente trazem convicção e verdadeiro arrependimento (veja Prov. 27:6).
Paulo chegou a entregar a Satanás o homem de Corinto que não havia se arrependido. Ele o entregou a Satanás “para destruição da carne” (1 Co 5:5), para que ele fosse salvo. Isso não soa muito bacana. Muitos hoje chamariam a tática de Paulo dura e legalista. Mas a razão disso é que perdemos todo senso real do temor do Senhor — e não percebemos que nosso relaxo com os padrões de Deus está pervertendo Sua misericórdia. Quando o pecado é grave, a repreensão pública tem de ser grave.
No debate todo em torno de Bentley e a morte do Reavivamento de Lakeland, estou aguardando para ouvir o som de choro de arrependimento. Todos nós deveríamos estar chorando. Deveríamos estar rasgando o coração — conforme Deus ordenou a Israel quando caíram em pecado (veja Joel 2:13-14). Para dar orientação a uma igreja confusa, nossos líderes deveriam ter condenado publicamente o desastre de Lakeland e ao mesmo tempo deveriam ajudar tanto Todd quanto Shonnah a se curarem.
Não estamos tristes com esse fingimento. Não estamos chocados nem horrorizados com o fato de que tal pecado tenha ocorrido no nosso meio. Agimos como se a atitude de partir facilmente para um divórcio e recasamento fossem violações insignificantes — quando na realidade são falhas morais tão sérias que são passíveis de expulsão.
Se de fato amamos Todd Bentley, não ficaremos pedindo para que ele volte rapidamente ao púlpito. Embora certamente queiramos que ele seja plenamente restaurado à comunhão com Deus, não podemos apressar o processo de restaurar um homem ao ministério. Os líderes precisam viver à altura de um padrão mais elevado. Temos de exigir que aqueles que estão envolvidos na restauração de Bentley não só o amem, mas também amem a igreja, protegendo-nos do tipo de escândalos que tivemos de agüentar no ano passado.
J. Lee Grady é editor da revista Charisma.
Fonte: www.juliosevero.com via Alvos Mais que a Neve
Por Amenidades da Cristandade
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[sexta-feira, março 20, 2009
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