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Comprido – e com graça

Confecções se especializam em fazer roupas modernas para mulheres religiosas

Bel Moherdaui

Dá para conciliar preceitos religiosos rigorosos com o gosto brasileiro por roupas vistosas? Cerca de 15 milhões de evangélicas, uma multidão que, na hora de compor o guarda-roupa, segue mais ou menos ao pé da letra (ou melhor, da tradição, já que textos religiosos raramente entram em tais detalhes) as doutrinas da sua igreja, tentam fazer isso. De modo geral, o código de vestuário das religiões evangélicas reza o seguinte: calça comprida, não; decote, também não; saia, abaixo do joelho; transparências, nem pensar; mangas, sempre. Como a moda que impera na maioria das lojas é o oposto de tudo isso, surgiu nos últimos anos uma série de confecções especializadas em roupas para mulheres que não podem mostrar muito, mas também não querem parecer viver no Afeganistão dos talibãs. Só no bairro do Brás, em São Paulo, quase trinta lojas funcionam sob a placa "Moda Evangélica" e vendem para todo o país, principalmente no Nordeste e no Sul.

Entre as preferências do público, reina absoluta a saia logo abaixo do joelho (chamada de "saia secretária") de jeans. "Sempre com muitos apliques, bordados, brilhos, vários bolsos ou zíperes. A evangélica gosta de traduzir na roupa o que não usa em maquiagem e acessórios", explica Aurea Flores, veterana no ramo – há quase quinze anos é proprietária da Joyaly, em São Paulo, onde mantém um cadastro de mais de 5.000 clientes, entre os quais lojas de Rondônia a Santa Catarina. Evangélica como suas freguesas, Aurea só tem vendedoras crentes – "Para que a consumidora se sinta mais à vontade", explica. A maioria dessas confecções surgiu do desejo da própria dona de ter algo interessante para vestir que não ferisse as orientações dos pastores. "Só achava roupas tipo saco de estopa para usar, daquelas que identificam a crente de longe. Resolvi criar minha confecção para ter uma coisa moderna, mas dentro dos padrões da igreja", conta a paulistana Tatiana Falcão, dona da Kamanaco. Estudante de moda, Carolina Niza Sampaio é a estilista da confecção da família, a K@bene, que produz 10.000. saias secretária de jeans por mês e cresce, em média, 15% ao ano. "Inspiração eu busco via internet, em cursos e palestras de moda. Pego idéias de estilistas famosos e as transporto para o que a gente usa", explica ela. Em alguns casos, as estilistas também viajam para feiras internacionais, visitam lojas de grifes badaladas e lêem publicações especializadas – exatamente como todos os profissionais do meio.

Fotos Pedro Rubens
Brilhos, botões, bordados e babados: se o corte tem de ser sério, incrementem-se os detalhes


Vendo de fora, pode-se supor que o anseio secreto das mulheres que se cobrem por motivo religioso – e são legiões, já que esconder as formas femininas é objeto de preceitos muçulmanos, judeus e cristãos (católicos, inclusive; as freiras, até pouco tempo atrás, vestiam-se quase tanto quanto uma iraniana pós-aiatolá Khomeini) – seja um dia jogar tudo na fogueira e vestir uma minissaia e um top de alcinha. Puro engano. Da mesma forma que o estilo se adapta às convenções religiosas, as usuárias se sentem muito bem assim e em geral não almejam burlar as regras – desejam, isso sim, embelezar-se dentro do que a religião permite. "Não vejo nada errado em usar essas roupas. Na verdade, ficamos até mais femininas, porque é sempre uma saia, um vestido, um tailleur", diz a professora Dorcas de Lima, de São Paulo. Fora dos pontos-de-venda especializados, as adeptas do recato vasculham lojas voltadas para um segmento mais maduro, como se diz. "Fazemos uma roupa séria. Não é arrojada demais, não briga com nada. Por isso, agrada a esse público", avalia Andrea Duca, gerente de marketing na rede Gregory, que calcula que quase 10% das clientes sejam evangélicas. Quem nunca se vestiu de acordo com os padrões religiosos e se converte já adulta se enquadra como pode, em geral recorrendo a uma interpretação bem menos estrita das regras. É o caso de Joana Prado, a ex-semidespida Feiticeira (embora não tirasse o véu, reconheça-se), que, filha de evangélica, se converteu à Assembléia de Deus Betesda há quase dois anos. "Hoje não me sinto bem em determinadas roupas. Lógico que não vou andar fechada dos pés à cabeça, mas dou preferência aos vestidos na altura do joelho ou pouco acima. Top de barriga de fora, não consigo usar mais. Substituí por regatinha", diz. "Mas ainda uso muito calça jeans", confessa.

Fonte: Veja on-line

Por Amenidades da Cristandade

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