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Músico, produtor, dono de selo independente... O campo de atuação de Pregador Luo é vasto. O envolvimento com as diversas vertentes da área musical fez com que o cantor adquirisse uma noção clara de como funcionam os processos da indústria desse segmento.

Há mais de vinte anos envolvido com o hip hop, Pregador Luo obteve destaque à frente do Apocalipse 16 – referência quando se fala em rap gospel de qualidade. O primeiro trabalho do grupo marcou o surgimento do selo Sete Taças, criado pelo músico com o intuito de lançar os trabalhos de sua banda.

O CD “Música de Guerra – 1ª Missão”, lançado em 2008, chegou às lojas cinco anos após o seu primeiro trabalho-solo, “RevoLuoção”. O hiato entre os dois álbuns trouxe algumas mudanças, que refletem a constante busca de Luo pela inovação. O novo trabalho do cantor resultou em duas indicações ao Troféu Talento, nas categorias “Álbum Rap” e “Álbum Independente”.

Em entrevista ao site do Troféu Talento, Pregador Luo falou sobre seu mais recente CD, opinou sobre o mercado independente, revelou algumas das influências que contribuíram para o desenvolvimento de sua música, além de destacar a importância da fé em Deus para enfrentar – e vencer – as batalhas da vida.

Quais as diferenças entre o CD “Música de Guerra – 1ª Missão” e o seu primeiro álbum-solo, “RevoLuoção” de 2003?

Pregador Luo - O “MG-1ªM” foi todo composto em cima de uma mesma temática que aborda o mundo das artes marciais. Compus sobre a vida dos lutadores brasileiros que são ícones mundiais desse esporte e que têm uma mensagem para passar através do esporte, de sua fé e de seus testemunhos de vida. Porém, em todo o conteúdo do disco procuro trazer a mensagem de Jesus e de seu poderoso Evangelho como forma de resgatar as pessoas e reposicioná-las na vida de forma positiva. Para isso, utilizo a metáfora da luta, que é de fato a luta física que esses atletas travam para conseguir alcançar os seus objetivos como profissionais. Uso essa mesma metáfora para incentivar pessoas a vencerem lutas que estão travando em diversas áreas, e a superar desafios.

Como, por exemplo, no campo espiritual, social, profissional, na área da saúde. Pessoas que enfrentam problemas, que estão doentes, desempregadas, presas ou desmotivadas com a vida encontram no CD “Música de Guerra” um fôlego novo e um estímulo para irem além e vencerem seus desafios.

O CD “RevoLuoção”, meu primeiro álbum-solo duplo, também tinha tudo isso. Só que nele eu pude abordar diversos outros assuntos. Compus 39 faixas que vão do rap pesado ao rock, da bossa nova ao soul. A meu ver, esse disco foi um marco na história do rap e da música gospel. O público apreciou muito este CD.A sonoridade dos dois álbuns é parecida na qualidade, mas a produção das bases musicais muda um pouco, pois estou sempre inovando o meu estilo e acompanhando a tendência mundial do hip hop. Já o discurso continua e continuará sempre cheio de conteúdo do bem, cheio do Amor de Deus e de sede de justiça e vitória.

O lançamento do seu novo álbum é um indício do fim do Apocalipse 16 ou a ideia é manter trabalhos paralelos?

Pregador Luo – O Apocalipse 16 ainda vai durar muito tempo; enquanto eu existir ele também continuará existindo e depois que eu passar ele continuará. APC 16 e LUO são a mesma coisa, não existe um sem o outro! Desde que montei o Apocalipse 16, em 1996, sempre fui o investidor de todo o projeto, desde escrever todas as letras, produzir todas as músicas, elaborar todas as capas, ser responsável por todos os custos de produção, gerenciamento de vendas, divulgação do produto, etc. Todas essas coisas eu fiz praticamente sozinho. Não tive investidores mesmo no início, na primeira formação, e até hoje nesse formato de banda. Todas as pessoas com quem trabalhei tiveram sua importância e seu valor, e mostraram no APC 16 o seu lado artístico durante as apresentações em eventos. Todos nós sabemos ou deveríamos saber que não é só isso que faz uma banda ou um artista dar certo. Sou grato a minha esposa, que sempre esteve ao meu lado, me ajudando em tudo e em todos os momentos. Sou grato a Deus por ela e também por ter me dado forças e bênçãos para eu seguir com esse propósito em minha vida. A minha ideia como artista-solo é poder fazer um trabalho paralelo que se diferencie do que faço no Apocalipse 16 e que sempre traga novas possibilidades e um fôlego novo para a cena musical, como, por exemplo, o que estou fazendo agora com o “Música de Guerra”, meu novo álbum-solo que é um projeto inédito no mundo.

Quais artistas serviram de influência para o seu trabalho?

Pregador Luo - São muitos, e de fases diferentes de minha vida. No começo eram os rappers americanos Public Enemy, Eric B e Rakin, Afrika Bambaata, Gueto Boys, Boggie Down, Rodney-O and Joe Cooley, Jazzy Jeff and Fresh Prince (hoje conhecido como Will Smith), NWA, Bone Thugs in Harmony, Ja Rule, Busta Rhymes, DMX, Puff Daddy. Eram e continuarão sendo muitos os que me inspiram. Os brasileiros Thaíde e DJ Hum, Ndee Naldinho, MC Jack, Os Metralhas, DJ Mister, Eazy Nylon, DJ Duda, DJ Cuca, Racionais MC’s e dezenas de outros. Tive minha fase de ouvir de tudo, rock, MPB, música eletrônica, house, DnB, bossa nova, soul... No soul, não posso jamais esquecer James Brown, Isaac Hayes, Lamont Dozier, Al Green, Marvin Gaye, Michael Jackson, que eu imitei milhares de vezes (risos). Bate até um saudosismo lembrar disso tudo. Quando conheci a música gospel e seus excelentes artistas, músicos, letristas e arranjadores, eu me identifiquei de cara com tudo. Desde os mais tradicionais aos artistas da black music, como Voz da Verdade, Kadoshi (ainda na época de Athos 2), Pr. Adhemar de Campos, Álvaro Tito, Oséias de Paula, Rayssa e Ravel, Aline Barros, Trazendo a Arca, Markinhos Gomes, etc. Da black music: Gospel Gangstas, Grits, Kirk Franklin, Cristhafari, Dawkns and Dawkns, Mary Mary, B.B. Jay, DJ Alpiste, Provérbio X, Robson Nascimento, Sérgio Saas, Banda Bani, FLG, Banda Rara, Templo Soul e vários corais nacionais e internacionais.

O que o inspira a compor?

Pregador Luo - Todas essas pessoas que citei acima, minha esposa, filmes, livros, desenhos, esportistas de diversas modalidades, HQs, praia, um dia de chuva, um dia de sol, as estrelas, a lua. Sobretudo, minha inspiração maior é o Evangelho na pessoa de Jesus Cristo. Por causa dEle, vejo causa e propósito em fazer o que faço.

Como surgiu a ideia de criar o selo Sete Taças?

Pregador Luo - O selo surgiu mais por necessidade do que por uma idéia. Sempre fui muito independente; ainda jovem eu já trabalhava, comprava meus tênis, jaquetas, discos, cartuchos de Atari e me mantinha. Saí cedo de casa. Quando comecei a cantar, logo percebi que gravar era difícil. E quando percebi que as gravadoras se beneficiavam mais do que os próprios artistas nos contratos, não tive dúvida: procurei saber como funcionava o processo para fabricar e vender discos por conta própria. Não foi fácil, e até hoje não é. Lembro que, logo que recebi da fábrica as primeiras peças do CD “Arrependa-se”, em 1998, enchi um saco de lixo preto bem grande com algumas caixinhas, peguei um ônibus e saí oferecendo nas lojas de discos. Alguns lojistas davam risada, outros, acredito que ficavam com dó e compravam uma ou duas peças. Quando vi, estava no Largo de Pinheiros, em São Paulo, no final da tarde. Eu era louco (risos), mas alguma coisa me movia a fazer essas coisas, entre tantas outras coisas que fiz para poder conseguir tornar meu sonho uma realidade. Fiz este trajeto mais algumas vezes. Nas lojas em que retornei, os meus discos haviam acabado e os lojistas já não riam mais. Passaram a comprar caixas inteiras dos meus CDs. Daí em diante, fui aprendendo cada vez mais sobre o negócio e lancei meus 10 trabalhos seguintes pelo meu próprio selo. Lancei também alguns outros artistas e ajudei a impulsionar e criar essa cena da black music gospel no Brasil.

Como músico e proprietário de um selo independente, qual a sua visão a respeito do espaço existente para artistas gospel desse segmento?

Pregador Luo - O espaço é mínimo ainda. Existe um preconceito no coração de muita gente com relação ao segmento. É como se cada banda estivesse à sua própria sorte no mercado. Eu tenho tratado de abrir meu caminho sem depender muito do que pensam ou fazem por mim. Ainda falta empenho, compromisso com Deus, investimento e até maior profissionalismo de muitos artistas do meio. Somado a isso, a mídia e as gravadoras oferecem sempre mais do mesmo. Não respiram novos ares e não se engajam em criar uma cultura musical que seja baseada na pluralidade e na democracia. Se alguns conseguiram por mérito próprio, e também com a ajuda de Deus, se tornar os fenômenos que são hoje, glória a Deus, estão de parabéns. Mas as rádios, gravadoras e distribuidoras não entendem que pode se fatiar o mercado. Tocam 24 horas por dia a febre do momento, ou quem pode pagar mais. Não tiro o mérito de nenhum artista, mas o povo e os profissionais que controlam a mídia no País deveriam perceber que isso pode ser bom para os negócios, mas ruim para a cultura evangélica. Transformar homens em mártires e incentivar um consumo exacerbado de apenas uma vertente como verdade absoluta é um erro do povo evangélico, um erro que certamente irá gerar um desfalque para o Reino de Deus.

Como é a experiência de comandar um programa de rádio?

Pregador Luo - Ótima! Muito gratificante, uma tarefa de grande importância, divertida e também oportuna, já que posso conversar com o meu público diretamente, tocar minhas músicas e de outros artistas e amigos, e ainda entrar na casa e no coração de milhares de pessoas. No programa chegam cartas, e-mails e ligações de diversas pessoas. Famílias inteiras ficam ligadinhas aguardando o início do programa. São pais que escutam com os filhos, pessoas que ligam de seus trabalhos ou de leitos de hospitais, amigos que se reúnem para ouvir o programa juntos. Gente de todo o Brasil. Muitas crianças ligam pedindo minhas músicas. Um garoto chamado Lucas liga toda semana com a irmã dele, Karen. Eles ficam juntos, todo sábado, escutando o programa. Em um desses dias, perguntei ao Lucas: “O que você quer ser quando crescer?” e ele me respondeu: “Igual a você, Luo.” Eu até engasguei nessa hora. Saber que seguir o plano de Deus para minha vida me faz ser um exemplo até para uma criança de 10 anos é motivo de muito orgulho e de honra. O programa vai ao ar todos os sábados, pela Rede Nossa Rádio FM, a partir das 21h.

Na sua visão, o hip hop brasileiro já conseguiu criar um estilo próprio?

Pregador Luo - Sim, mas não o adequado. O estilo que se popularizou no País se enraizou nas favelas e periferias e fica muitas vezes restrito aos guetos; é um estilo que não dialoga com todas as classes. Isso a meu ver é ruim, pois nos limita. O mau português das letras, a apologia ao uso de drogas e ao estilo de vida de malandro, as produções fracas, a associação ao crime e uma série de outros pontos negativos impedem que o estilo cresça no Brasil. O povo fica com medo. É gerado um pré-conceito. Não existe uma preocupação em evoluir nesses aspectos e não podemos atribuir isso à falta de recursos e à pobreza. Bom gosto, zelo, boa índole e cuidado com o seu trabalho vêm antes do dinheiro e dos recursos, eu sou a prova disso.

O que as indicações ao Troféu Talento pelo álbum “Música de Guerra – 1ª Missão” representam para você?

Pregador Luo - Antes de tudo, são motivos de felicidade por ser incluso e ser levado em conta. E motivo de gratidão a Deus e à organização do prêmio por ter meu trabalho indicado. É uma chance de mostrar minha obra para um número maior de pessoas. Mídia, fãs, indústria e profissionais do mercado voltam os olhos para o meu produto e meu discurso. A premiação valoriza e fortalece minha carreira!

Poderia deixar uma mensagem para os fãs?

Pregador Luo - Quero pedir para as pessoas que apoiam e acompanham o meu trabalho que continuem tendo a mente aberta para Deus, que não se fechem para o conhecimento, que não deixem de se alimentar de Deus, e da Sua palavra. Continuem escutando música, vendo filmes, lendo livros, viajando, sorrindo, chorando, tendo suas próprias experiências de vida e extraindo delas tudo o que for bom para seu autocrescimento. Dancem, cantem, descubram a pessoa certa, namorem, casem e constituam família. Não se prendam a nada, mas sejam livres em Jesus Cristo. Aproveitem a liberdade e a salvação que Ele conquistou para vocês na Cruz. Obrigado pelo apoio de todos vocês. Fiquem firmes na Rocha e que Deus os abençoe!

Fonte: Troféu Talento, via Escrevendo de Tudo

Por Amenidades da Cristandade

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